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quarta-feira, dezembro 17, 2008

Fingir que está tudo bem

fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.

[José Luís Peixoto]


Vi no blog My World e nunca consegui esquecer…

Apenas para dizer que normalmente agendo os meus posts, ok? Não quer dizer que os faça no dia e hora marcada... Beijinhos a todos e continuo a agradecer TUDO

5 comentários:

Teófilo M. disse...

Já me ía deitar, e nem te dizia boa noite...

Xiii, mas que leituras ó piquena, isso são coisas para ler à noite?

E POR VEZES

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos

David Mourão-Ferreira

Vou-te deixar com estes, e uma beijoca de boas-noites.

P.S.: Amanhã quero-te mais fresca!

Paula Raposo disse...

Um fabuloso poema do José Luís Peixoto. Muitos beijos para ti.

Purpurina disse...

Só para deixar um beijinho

Maria Cristina Amorim disse...

claro que te vim deixar uma beijoca...
CHUAK.
:)

tulipa disse...

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa

Encontrei hoje esta bela poesia de Fernando Pessoa e com ela transmito-te o meu pensamento:

Sossega, coração!
Não desesperes!
Sossega, coração, contudo!
Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme...

Pois é o que mais tens feito, dormir, então dorme sossegada, sem estares em sobressalto, pois o sossego não quer razão nem causa.
Beijinhos.