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domingo, setembro 30, 2007

No hospital - II

Ok, não tenho tido vontade de escrever apesar deste internamento estar a dar comigo em maluca. Tanta coisa para contar, mas ao mesmo tempo nem me apetece falar do assunto…

Hoje é o 12º dia que passo aqui dentro, e se não saio daqui o mais rápido possível ainda me transferem para Psiquiatria. Estou a dar em maluca desta vez. Não vejo grandes melhoras apesar de estar melhor… Mas o inchaço no abdómen continua e as dores também um pouco. Tem sido um stress por causa da comida, apenas posso dizer que quanto mais insistem comigo, pior. Eu cá sei dos meus problemas, e das minhas razões para não comer… E eu tenho comido!! Nos primeiros dias nem tocava no tabuleiro. Poxa, estou num hospital e não num hotel!! A comida é a mesma porcaria todos os dias. O pequeno-almoço, o lanche e a ceia já me metem nojo, é sempre igual! Monotonia, monotonia, monotonia… Este fim de semana que passou então foi para esquecer… Acreditem, o tempo aqui não passa, além de todos os dias ser tudo igual de manhã à noite. Tenho ouvido um pouco de música, tenho andado a estudar (vejam lá bem) e tenho lido um pouco também outros livros. Se não fosse isto já tinha enlouquecido… Posso dizer que desta vez não tive sorte com uma das pacientes do meu quarto… sim, já não estou sozinha… já não posso com ela, meu deus… Tirem-me deste filme. Gostava tanto de estar sozinha no quarto. Para quem estava habituada a estar sozinha, tem que estar 24 horas atrás de 24 horas sempre com pessoas… Doentes, enfermeiras, auxiliares, técnicos, médicos… Os únicos minutos que estou sozinha é quando vou ao wc, e não é muito agradável estar lá muito tempo. E isto quando ninguém decide abrir a porta sem sequer perguntar se o wc está ocupado… Sim, aqui a porta não tranca e abre para fora, ainda por cima… Não há privacidade, digamos…

Bom, aqui há dias passei um dia horrível pois parece que não se decidiam quanto ao que me fazer… ecografias, TAC ou ressonância magnética… E eu estive até às 18h e tal com um iogurte comido. Não me deixaram comer nem beber por causa do exame. Mas qual exame? Acabei por não fazer nenhum… Ecografias não valia a pena, TAC não podia pois o contraste ía piorar o meu problema e ressonância magnética também não pois tenho um CDI.

Enfim, tenho continuado apenas a fazer análises ao sangue e a tomar os medicamentos. Além dos exames que referi anteriormente no outro dia, também já fiz mais uma ecografia ao coração, um R/X ao tórax e também outro que penso que se chama Ecocardiograma Transesofágico (Estudo do coração com ultra-som, com sonda, pelo esófago). Só sei que me custou enfiar aquele tubo pela boca e que ía mordendo os dedos ao médico, coitado…

Conheço pessoas que me dizem que sou muito forte pois se fossem elas não saberiam lidar com o problema de ter uma doença de tempo limitado (a única solução é o transplante e esta não é uma solução muito fácil a vários níveis, como sabem…). Algumas já se tinham mandado de uma ponte talvez… Pois é, eu acho que tenho sido forte, mas nem sempre é fácil, há dias em que fraquejamos… Mesmo assim há pessoas que pensam que sou muito agarrada à minha doença. “Minha gente”, se eu estivesse agarrada à doença eu já tinha parado com os estudos. Para quê estudar? Para quê tirar um curso? Já agora também, para quê namorar? Para quê ter vontade de fazer pequenas coisas para vender e arranjar uns trocos? Não vou levar o dinheiro para a cova… É impossível ser forte todos os dias… Haverá dias em que choramos e queremos que o pesadelo acabe… É por causa de passar muito tempo em casa e não sair? Pois bem, a minha vida sempre foi assim, nunca saí assim tanto. Se não saio mais é porque não quero estar sempre a fazer frente ao problema. Estar a pedir a pessoas que me levem ao colo em escadas ou subidas… Ter que andar a passo de caracol e obrigar os outros ao mesmo… Estar sempre a parar de 2 em 2 minutos… Ter pessoas que vêm ter comigo perguntar se está tudo bem… Lembrar-me que há 1 ano e meio podia correr, saltar, pular, dançar, etc… e agora não… Dançar é uma paixão, e deixar de dançar para mim foi algo que me afectou mais do que eu própria imaginava…

Acreditem que sair de casa não me traz mais felicidade, e ponto final. Não quer dizer que não queira ter amigos ou que não goste dos amigos que tenho… Adoro-vos e agradeço a todos o vosso apoio, mas não levem a mal às vezes quando recuso alguns convites. Gostava mesmo que entendessem isso…

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