com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.
[José Luís Peixoto]
Vi no blog My World e nunca consegui esquecer…
5 comentários:
Já me ía deitar, e nem te dizia boa noite...
Xiii, mas que leituras ó piquena, isso são coisas para ler à noite?
E POR VEZES
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
David Mourão-Ferreira
Vou-te deixar com estes, e uma beijoca de boas-noites.
P.S.: Amanhã quero-te mais fresca!
Um fabuloso poema do José Luís Peixoto. Muitos beijos para ti.
Só para deixar um beijinho
claro que te vim deixar uma beijoca...
CHUAK.
:)
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa
Encontrei hoje esta bela poesia de Fernando Pessoa e com ela transmito-te o meu pensamento:
Sossega, coração!
Não desesperes!
Sossega, coração, contudo!
Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme...
Pois é o que mais tens feito, dormir, então dorme sossegada, sem estares em sobressalto, pois o sossego não quer razão nem causa.
Beijinhos.
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